teu Mestre frente a frente, o teu Senhor luz a luz, que foi que te
disseram?
Antes que te possas acercar da porta mais próxima tens de
aprender a separar o teu corpo do teu espírito, e a viver no eterno. Para
isto, tens de viver e respirar em tudo, como tudo que vês respira em ti;
sentir-te existir em todas coisas, e todas as coisas em ti.
Não deixarás os teus sentidos fazer do teu espírito campo para
o seu recreio.
Não separarás o teu ser do Ser, e do resto, mas fundirás o
oceano na gota de água, e a gota de água no oceano.
Assim estarás em acordo com tudo quanto vive; ama os homens
como se eles fossem os teus condiscípulos, discípulos do mesmo Mestre,
filhos da mesma boa mãe.
Professores há muitos; a Alma-Mestra (105) é uma, Alaya, a Alma
Universal. Vive nesse Mestre como o seu raio em ti. Vive nos teus
semelhantes como eles nela.
Antes que estejas no limiar do Caminho; antes que entres pela
primeira porta, tens de fundir os dois em um e sacrificar o pessoal à
Personalidade impessoal, e assim destruir o caminho entre as duas -
Antahkarana (106).
Tens de estar pronto para responder a Dharma, a lei austera,
cuja voz te perguntará ao teu primeiro passo, ao teu passo inicial.
"Obedeceste a todas as regras, ó de altas esperanças?
"Puseste o teu coração e a tua mente de acordo com a grande
mente e o grande coração de toda a humanidade? Porque, como a voz sonora do
grande rio, na qual todos os sons têm o seu eco (107), assim deve o coração
daquele que queira entrar para o rio vibrar em resposta a cada suspiro e a
cada pensamento de tudo quanto vive e respira".
Os discípulos podem ser comparados a cordas da vina que produz
eco nas almas; a humanidade, à sua caixa de ressonância; a mão que a vibra,
à respiração melodiosa da Grande Alma do Mundo. A corda que não vibra ao
toque o Mestre, em harmonia suave com todas as outras, quebra-se e é
deitada fora. Assim as mentes coletivas dos Lanu-Shravakas. Têm de ser
afinadas para vibrar de acordo com o espírito do Upadhya - uno com a
Super-Alma - ou se quebrará.
Assim fazem os irmãos da sombra - os assassinos das suas Almas,
a horrível seita dos Dad-Dugpa (108).
Puseste o teu ser de acordo com a grande dor da humanidade, ó
candidato à luz?
Fizeste assim?... Podes entrar. Antes, porém, que dês um passo
no duro caminho da tristeza, é bom que aprendas quais são os perigos da
estrada.
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Armado com a chave da caridade, do amor e da terna
misericórdia, podes estar tranqüilo ante a porta de Dana, a porta que fica
à entrada do Caminho.
Vê, ó ditoso peregrino! O portal que tens diante de ti é alto e
largo, parece de fácil acesso. A estrada que o atravessa é reta, suave e
relvada. É como uma clareira cheia de sol no meio da floresta escura e
funda, um lugar na terra refletindo o paraíso de Amitabha (109) . Ali
rouxinóis de esperança e aves de penas radiosas cantam em bosques
verdejantes, trilando triunfos aos peregrinos sem receio. Cantam as cinco
virtudes do Bodhisattva, a fonte quíntupla do poder do Bodhi, e dos sete
degraus no conhecimento.
Passa, segue para diante!. Trouxeste a chave: estás salvo.
Para a segunda porta a entrada é verde também, mas é íngreme e
serpenteia montanha acima - sim, até ao cimo rochoso da montanha. Névoas
cinzentas cobrirão o seu píncaro rude e pedregoso, e para além será tudo
escuridão. À medida que avança, o cântico da esperança soa cada vez mais
débil no coração do peregrino. O arrepio da dúvida atinge-o; os seus passos
tornam-se mais incertos.
Acautela-te com isto, ó candidato; acautela-te contra o medo
que, como as asas negras e silenciosas do morcego noturno, se alastra entre
o luar da tua Alma e a tua grande meta que surge na distância, muito longe
ainda.
O medo, ó discípulo, mata a vontade e demora a ação. Se é
falho da virtude Shila, o peregrino tropeça, e pedras cármicas ferem-lhe os
pés pelo caminho pedregoso.
Pisa com segurança, ó candidato. Banha a tua alma na essência
de Kshanti; porque te acercas agora do portal que tem esse nome, a porta da
fortaleza e da paciência.
Não feches os olhos, nem percas de vista Dorje (110); as setas
de Mara atingem sempre o homem que não chegou ao Vairagya (111) .
Não tremas. Sob o hálito do medo enferruja a chave de Kshanti;
a chave ferrugenta já não pode abrir.
Quanto mais avançares, mais e mais serão os perigos que
cercarão os teus passos. O caminho que segue para diante é iluminado por
uma chama - a luz da audácia ardendo no coração. Quanto mais ousares, mais
conseguirás. Quanto mais temeres, mais a luz esmorecerá - e só ela te pode
guiar. Porque como o último raio do sol no píncaro do alto monte é seguido
pela noite escura quando cessa, assim é a luz do coração. Quando se apaga,
uma sombra negra e ameaçadora cairá do teu coração sobre o Caminho, e
prenderá os teus pés pávidos no chão.
Acautela-te, discípulo, com essa sombra letal. Nenhuma luz que
brilhe do Espírito pode dispersar a escuridão da Alma inferior, a não ser
que todo o pensamento egoísta de lá tenha fugido, e que o peregrino diga:
"Abdiquei deste corpo que passa; destruí a causa; as sombras, meros
efeitos, não podem mais subsistir". Porque teve lugar agora a última
grande batalha, a guerra final entre o ser superior e o inferior. Vê, o
próprio campo da batalha se engolfou na grande guerra, e deixou de existir.
Mas, uma vez passada a porta de Kshanti, está dado o terceiro
passo. O teu corpo é teu escravo. Prepara-te agora para a quarta porta, a
porta das tentações que enleiam o homem interior.
Antes que possas acercar-te dessa meta, antes que a tua mão se
erga para levantar o fecho da quarta porta, deves ter dominado todas as
alterações mentais em ti, e matado o exército das sensações-pensamentos
que, sutis e insidiosas, se introduzem, sem que tu queiras, no sacrário
luzente da Alma.
Se não queres que elas te matem, deves tornar inofensivas as
tuas criações, os filhos dos teus pensamentos, invisíveis, impalpáveis, que
enxameiam em torno à humanidade, prole e herdeiros do homem e das suas
presas terrestres. Tens de estudar o vácuo do aparentemente cheio, o cheio
do aparentemente vazio. Ó aspirante intemerato, olha bem para dentro do
poço do teu coração, e responde. Conheces bem os poderes da Personalidade,
ó observador das sombras externas?
Se os não conheces, está perdido.
Porque, no quarto caminho, a mais leve brisa da paixão ou do
desejo fará tremer a luz firme nos muros brancos e puros da Alma. A mais
pequena onda de ânsia ou de saudade pelos dons ilusórios de Maya, ao
passares por Antahkarana - o caminho que há entre o teu Espírito e a tua
Personalidade, a estrada-real das sensações, as despertadoras de Ahamkara
(112) - um pensamento rápido como a luz do relâmpago far-te-á perder os
teus três prêmios - os três prêmios que ganhaste. Aprende que no Eterno não
há mudança.
"Abandona para sempre as oito cruéis angústias; se não, por
certo que não chegaste à sabedoria, nem ainda à libertação", diz o grande
Senhor, o Tathagata da perfeição, "aquele que seguiu as passadas dos seus
predecessores (113).
Austera e exigente é a virtude de Vairagya. Se queres possuir o
seu caminho, tens de ter a tua mente, as tuas percepções mais do que nunca
livres da ação mortal.
Tens de te saturar do puro Alaya, de te identificar com o
pensamento da alma da Natureza. Unificado com ele és invencível; separado
dele, torna-te o campo de recreio de Samvritti (114) , origem de todas as
ilusões do mundo.
Tudo é transitório no homem, salvo a pura e clara essência do
Alaya. O homem é o seu raio cristalino; por dentro um raio de luz
imaculada, uma forma de barro material na superfície inferior. Esse raio é
o teu guia de vida e a tua Personalidade verdadeira, a sentinela e o
pensador silencioso, a vítima do teu ser inferior. A tua Alma não pode ser
ferida senão através do teu corpo pecador; domina e rege os dois e estarás
salvo quando estiveres cruzando as proximidades da Porta do Equilíbrio.
Anima-te, audaz peregrino, para a outra margem. Não dês ouvidos
ao segredar das hostes de Mara; afasta os tentadores, esses espíritos de má
índole, os Lhamayn (115) no espaço infinito.
Mantém-te firme! Acerca-te agora do portal médio, da porta da
dor, com as suas dez mil armadilhas.
Domina os teus pensamentos, ó ansioso pela perfeição, se queres
atravessar o limiar dela.
Domina a tua alma, ó ansioso pelas verdades eternas, se queres
chegar à meta.
Concentra o olhar da tua alma na luz única e pura, na luz que
nada afeta, e serve-te da tua chave de ouro.
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O árduo trabalho está feito, a tua tarefa quase finda. O grande
abismo, que se abria para te tragar, está quase passado.
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Atravessaste a vala que circula a porta das paixões humanas.
Venceste já a Mara e à sua horda furiosa.
Tiraste a impureza do teu coração e sangraste-o de desejos
impuros. Mas, ó combatente glorioso, a tua tarefa ainda não está no fim.
Constrói alto, Lanu, o muro que há de defender a tua Ilha Sagrada (116), o
dique que protegerá o teu espírito do orgulho e do contentamento ao
pensares no teu grande feito.
Um sentimento de orgulho macularia a tua obra. Sim: ergue forte
o muro, não vá o impulso feroz das ondas em guerra, que sobem e batem na
sua costa, vindas do grande Mundo do oceano de Maya, engolfar o peregrino e
a ilha; - sim, no próprio momento da vitória.
A tua "ilha" é a corça, os teus pensamentos os galgos que
cansam e perseguem o seu avanço até ao rio da vida. Ai da corça que é
atingida pelos galgos malignos antes que chegue ao vale do refúgio -
Jnana-Marga (117), "o caminho do puro conhecimento".
Antes que te possas estabelecer em JnanaMarga e chamar-lhe
teu, a tua Alma tem de se tornar como o fruto maduro da mangueira: mole e
doce como a sua polpa dourada para as angústias dos outros, duro como o
caroço desse fruto para as tuas próprias dores e angústias, ó triunfador da
alegria e da tristeza.
Torna a tua Alma dura contra as armadilhas da tua
personalidade; faze com que ela mereça o nome de Alma de Diamante.
Porque, como o diamante enterrado fundo no coração vivo da
terra não pode refletir as luzes terrenas, assim são a tua mente e a tua
Alma; imersos no Jnana-Marga, nada devem refletir do meio ilusório de Maya.
Quando chegares a esse estado, os portais que tens de vencer no
teu caminho abrem de par em par as suas portas, para que passes e os
poderes maiores da natureza não têm força para te embargar o passo. Serás
dono do sétuplo caminho: mas só então o serás, ó candidato a provas
indizíveis.
Até ali, espera-te uma tarefa muito mais difícil: tens de te
sentir todo pensamento, e contudo exilar da tua alma todos os pensamentos.
Tens de chegar àquela fixidez de espírito em que nenhuma brisa,
por mais que cresça, pode soprar um pensamento material para dentro dele.
Assim purificado, o sacrário deve ficar vazio de toda a ação, som ou luz da
terra; assim como a borboleta, atingida pela geada, cai morta no limiar -
assim todos os pensamentos materiais devem cair mortos ante o tempo.
Vê que está escrito:
"Antes que a chama dourada possa arder com um brilho firme,
deve a lâmpada estar guardada num lugar livre de toda a aragem". Exposta à
brisa volúvel, a chama tremerá, e, tremendo, lançará sombras enganosas,
negras, e sempre variantes, sobre o sacrário branco da Alma.
E então, ó perseguidor da verdade, a alma da tua mente
tornar-se-á como um elefante louco, que se enfurece na floresta. Tomando as
árvores por inimigos vivos, morre ao tentar matar as sombras sempre
incertas bailando no muro dos rochedos inundados de sol.
Acautela-te, não vá a tua alma, ao cuidar da tua Personalidade,
perder pé no terreno do conhecimento Deva.
Acautela-te, não vá a tua Alma, ao esquecer a Personalidade,
perder o seu domínio sobre o seu espírito trêmulo, perdendo assim o justo
prêmio das suas conquistas.
Acautela-te contra a mudança, porque a mudança é o teu grande
inimigo. A mudança lutará contigo, afastar-te-á, atirar-te-á para fora do
caminho que trilhas, para dentro de pântanos viscosos de dúvida.
Prepara-te e acautela-te a tempo. Se experimentaste e falhaste,
ó lutador indômito, não percas, porém, a coragem: continua a lutar, e volta
ao embate repetidamente.
O guerreiro destemido, ainda que o sangue da sua vida lhe
escorra das feridas abertas, continuará a atacar o inimigo, expulsálo-á do
seu forte, vencê-lo-á mesmo, antes que ele próprio expire. Agi, pois, todos
vós que falhais e que sofreis, como esse soldado; e do forte da vossa Alma
expulsai todos os vossos inimigos - a ambição, a cólera, o ódio, até a
sombra do desejo - mesmo quando tiverdes falhado...
Lembra-te, tu que lutas pela libertação humana (118), que cada
falência é um triunfo, e cada tentativa sincera a seu tempo recebe o seu
prêmio. Os santos germes que brotam e crescem invisíveis na Alma do
discípulo, dobram como juncos mas não quebram, nem podem eles perder-se.
Mas quando a hora soa, desabrocham (119).
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Mas se vieste preparado, então não temas nada.
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Daqui em diante é claro o teu caminho, que vai direto à porta
de Virya, o quinto dos sete portais. Estás agora no caminho que conduz ao
porto do Dhyana, o sexto portal, o portal Bodhi.
A porta do Dhyana é como um vaso de alabastro, branco e
transparente; dentro dele arde uma luz firme e dourada, a chama de Prajna,
que de Atman irradia.
Esse vaso és tu.
Afasta-te dos objetos dos sentidos, seguiste pelo caminho da
visão, pelo caminho da audição, e estás agora na luz do conhecimento.
Chegaste agora ao estado de Titiksha (120).
Ó Naljor, estás salvo.
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Aprende, vencedor dos pecados, que uma vez que um Sowani (121)
tenha atravessado o sétimo caminho, toda a natureza estremece de alegria e
se sente submissa. A estrela prateada eis que cintila esta nova às flores
da noite, o riacho murmura esse conto às pedras; as ondas escuras do oceano
o cantam aos rochedos cheios de espuma, as brisas perfumadas cantam-no aos
vales, e os pinheiros altivos segredam misteriosamente: "Surgiu um Mestre,
um Mestre do Dia" (122).
Ele se ergue agora como uma coluna branca ao ocidente, sobre
cuja fronte o sol nascente do pensamento eterno derrama as suas primeiras
ondas gloriosas. O seu espírito, como um oceano ilimitado em calmaria,
alastra-se no espaço sem praias. Ele tem a vida e a morte na sua mão
poderosa.
Sim, ele é poderoso. O poder vivo tornado livre nele, esse
poder que é Ele próprio, pode erguer o tabernáculo da ilusão muito acima
dos Deuses, a cima dos grandes Brahm e Indra. É agora, por certo, que ele
conseguirá o seu grande prêmio!
Não usará ele os dons, que isso confere, para seu descanso e
felicidade, para seu proveito e glória tão bem ganhos - ele o subjugador da
grande ilusão?
Não, ó candidato à ciência secreta da natureza! Se quiseres
seguir os passos do santo Tathagata, esses dons e poderes não são para ti
próprio. Irás assim por um dique às águas nascidas em Someru (123)? Irás
desviar o rio para teu serviço, ou fazê-lo subir até à sua nascente, pelos
cerros dos ciclos?
Se quiseres que esse rio de conhecimento bem ganho, de
sabedoria de divina origem, fique uma corrente pura, não deves deixar que
ele se torne um lago estagnado.
Aprende: se quiseres tornar-te cooperador de Amitabha, a Idade
Ilimitada, então deves derramar a luz adquirida, como os dois Bodhisattvas
(124), sobre a extensão de todos os três mundos (125).
Aprende que a corrente de conhecimento sobre-humano e a
sabedoria Deva, que adquiriste, deve, de ti, o canal de Alaya, ser
derramada para outro leito.
Aprende, ó Naljor, tu do caminho secreto, que as suas águas
puras devem ser empregadas para tornar mais doces as ondas amargas do
oceano - esse grande mar de sofrimento formado pelas lágrimas dos homens.
Ai de ti! Uma vez que te tornaste como a estrela fixa no alto
céu, esse claro orbe celeste deve, das profundezas do espaço, brilhar para
todos, menos para si mesmo; dar luz a todos, e a nenhum tirá-la.
Ai de ti! Uma vez tornado como a neve pura nos vales das
montanhas, fria e insensível ao tato, quente e protetora para a semente que
dorme fundo sob o seu seio - agora é essa neve que deve receber a geada
mordente, os vendavais do norte, protegendo assim do seu dente fino e cruel
a terra que contém a colheita prometida, a colheita que dará pão aos que
têm fome.
Por ti próprio condenado a viver através de Kalpas futuros sem
que os homens te vejam ou te agradeçam; apertado como uma pedra contra
inúmeras outras que formam o "Muro da Guarda" (126), tal é o teu futuro se
passares a sétima porta. Construído pelas mãos de muitos Mestres da
Compaixão, erguido pelas suas torturas, cimentado pelo seu sangue, ele
proteje a humanidade, desde que o homem é homem, livrando-a de novas e
maiores angústias e tristezas.
O homem, porém, não o vê, não o quer ver, nem quer dar ouvidos
à palavra da Sabedoria, porque não a conhece.
Mas tu ouviste-a, tu sabes tudo, ó de Alma ansiosa e
imaculada... e tens de escolher. Escuta ainda.
No Caminho de Sowan, ó Srotapatti, segues seguro. Sim, nesse
Marga, onde apenas a escuridão vem ao encontro do peregrino cansado, onde,
rasgadas por espinhos, as mãos gotejam sangue, os pés são rasgados por
pedras agudas e duras, e Mara emprega as suas armas mais fortes - para além
dele, imediatamente há um grande prêmio.
Calmo e impassível, o peregrino vai até ao rio que conduz ao
Nirvana. Ele sabe que quanto mais os seus pés sangrarem, mais lavado e
limpo ele próprio ficará. Ele sabe bem que depois de sete breves e
transitoriais nascenças, o Nirvana lhe pertencera...
Tal é o caminho de Dhyana, o porto do iogue, a meta sagrada que
o Srotapattis buscam.
Não é assim quando atravessou e conquistou o caminho Arhat
(127).
Ali Klesha (128) é destruído para sempre, e as raízes de Tanha
(129) arrancadas; mas pára, discípulo... escuta uma palavra ainda. Podes tu
destruir a divina compaixão? A compaixão não é um atributo. É a Lei das
leis - a harmonia eterna, o próprio Ser de A1aya, uma essência universal
sem praias, a luz da justiça eterna, o acordo de tudo, a lei do eterno
amor.
Quanto mais com ela te unificares, fundindo o teu ser no seu
ser, tanto mais a tua Alma se unirá àquilo que é, tanto mais te tornarás a
Compaixão Absoluta (130).
Tal é o caminho Arya, caminho dos Budas da perfeição.
Mas o que significam os livros sagrados que te fazem dizer:
"Om! Creio que nem todos os Arhats obtêm o doce gozo do caminho
nirvânico.
"Om! Creio que no Nirvanadharma não entram todos os Budas"
(131).
Sim, no caminho de Arya já não és um Srotapatti, és um
Bodhisattva (132). Atravessaste o rio. É certo que tens direito à veste do
Dharmakaya; mas um Samhbogakaya é maior do que um Nirvani, e maior ainda é
um Nirmanakaya - o Buda da Compaixão (133).
Inclina agora a tua fronte e escuta bem, ó Bodhisattva - a
compaixão fala e diz:
"Pode haver felicidade quando tudo quanto vive tem de sofrer?
Quererás salvar-te ouvindo todo o mundo chorar?"
Agora ouviste o que se disse:
Chegarás ao sétimo degrau e atravessarás a porta do
conhecimento final, mas apenas para tomares a dor por esposa - se queres
ser Tathagata, seguir os passos do teu predecessor, conservar-te altruísta
até ao fim sem fim.
Estás iluminado - escolhe o teu caminho.
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Olha a luz suave que inunda o céu oriental. Céu e terra unem-se
em gestos de adoração. E dos poderes quadruplamente manifestados sobe um
cântico de amor, tanto do fogo que brilha como da água que corre, da terra
perfumada e do vento que passa.
Escuta!... do grande e insondável vórtice daquela luz dourada
em que o Vencedor se banha, toda a voz sem palavras da natureza se ergue
para em mil tons proclamar:
Saúdo-vos, ó homens de Myalba. (134).
Um peregrino regressou da "outra margem"
Nasceu um novo Arhan. (135).
Paz a todos os seres. (136).
Notas
1 . A palavra páli Iddhi eqüivale ao Siddhis sânscrito, as faculdades
"psíquicas" os poderes anormais do homem. Há duas espécies de Siddhis - um
grupo que compreende as energias inferiores, grosseiras, "psíquicas" e
mentais, ao passo que o outro exige o mais alto cultivo das capacidades
espirituais. Diz Krishna no Shrimad Bhagavat:
"Aquele que está ocupado na execução da Ioga, que venceu os seus sentidos e
concentrou o seu espírito em mim (Krishna) - a tais iogues como esse estão
todos os Siddhis prontos a servir."
2. A voz sem som, ou a "voz do silêncio". Literalmente, isto devia talvez
traduzir-se "voz no som espiritual", visto que Nada é o equivalente
sânscrito do termo Senzar.
3. Dharana é a concentração intensa e perfeita do espírito sobre qualquer
objeto interior, acompanhada da abstração completa de tudo quanto pertença
ao universo exterior, ou mundo dos sentidos.
4 . O "grande Mestre" é o termo que os chelas empregam para designar a
Personalidade Superior. Equivale ao Avalokiteshvara, e é o mesmo que o
Adi-Buda dos ocultistas do budismo, que o Atmandos Brâmanes, e que o
Christos dos antigos Gnósticos.
5. "Alma" é aqui empregado para designar o Eu ou Manas humano, a que na
nossa oculta divisão setenária se chama a Alma humana, para distingui-la
das Almas espirituais e animais.
6 . Maha-Maya, a grande ilusão, o universo objetivo. Voltar .
7. Sakkayaditthi, a ilusão da personalidade.
8. Attavada, a heresia da crença na Alma, ou antes, na separação da Alma ou
Personalidade do Ser universal, uno e infinito.
9. O Tattvajnani é o conhecedor ou discriminador dos princípios na natureza
e no homem; e Atmajnani é o conhecedor de Atman ou da Personalidade Única
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